Dia internacional da contabilidade: A origem das partidas dobradas

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Conheça o pai da contabilidade!

O dia 10 de novembro ficou marcado como a data comemorativa internacional da contabilidade. Isso porque, no ano de 1494, o notável livro renascentista escrito como um texto fundamental na história do capitalismo foi publicado, dando início a divulgação do trabalho do monge franciscano e matemático italiano, Luca Bartolomeo de Pacioli.

Pacioli foi matemático, teólogo, contabilista, entre outras profissões. Deixou muitas obras, destacando-se a “Summa de Aritmética, Geometria, Proportioni et Proporcionalitá”, impressa em Veneza, na qual está inserido o seu Tratado sobre Contabilidade e Escrituração. Esse novo sistema era o último grito que revolucionou a economia e o comércio. O “Summa” tornou Pacioli uma celebridade e assegurou-lhe um lugar na história como “o pai da contabilidade”.

Embora ele não tenha sido o autor das partidas dobradas e, tampouco o autor do primeiro livro sobre a difusão contabilística, a vida de Luca Pacioli merece ser contada, para que todos conheçam sua obra como o homem que inaugurou uma nova fase na literatura da Contabilidade, cujos critérios adotados na época perpetuam-se até os dias de hoje.

Luca Pacioli: Sua origem e evolução

Acredita-se que, por volta do ano de 1445, nasceu Luca Pacioli (ou Paciolo), em um vilarejo onde, na época, era conhecido como “Borgo di San Sepolcro”, hoje, apenas, chamado de “Sansepolcro”, província da cidade de Arezzo, na região da Toscana, região central da Itália.

Pacioli vivia em um ambiente de muito valor a cultura e, por essa razão, desde muito cedo, foi educado em sua cidade natal pelo experiente pintor e matemático Piero Della Francesca (também nascido em Borgo di San Sepolcro), que lhe ensinou álgebra, matemática e a divina proporção platônica.

Quando Pacioli foi até Veneza, acreditava-se que o motivo era devido ao mercado de trabalho existente naquela região, o que não havia na vila onde nasceu. Aos 20 anos, empregou-se na casa do próspero comerciante judeu Antonio Rompiasi, aos filhos do qual dedicaria uma obra, e estudou na Escola de Domenico Bragantino, um “público leitor de matemática” (termo usado, na época, aos especialistas da área que possuíam concessão para o magistério).

Não se sabe, ao certo, qual era a função de Luca na casa comercial de Rompiasi, mas, admite-se que ele foi o pedagogo de seus filhos, considerando seus conhecimentos de aritmética, religião e arte que já trazia de San Sepolcro. Acredita-se, também, que, naquela época, Pacioli já teria conhecimento das partidas dobradas.

Entende-se que a grande prática sobre comércio Pacioli adquiriu em Veneza, o que também justifica, em parte, que seu estilo literário muito rigoroso e sucinto, por sinal, foi dedicado, apenas, ao ramo comercial. Até seu trabalho em Veneza, que deu origem a um livro sobre álgebra, finalizado em 147O, Luca ainda não era um Frei. Aos 49 anos e, ainda, residendo em Veneza, Pacioli editou a sua “Summa de Aritmética, Geometria, Proporção e Proporcionalidade”, na qual está inserido o “Tratactus de Computis et Scripturis” (“Tratado de Computo e Escrituração”), ensinando a contabilidade por partidas dobradas.

A “Summa” foi o seu o mais importante livro, mas, não o primeiro de Pacioli, pois, aos 25 anos, já com grande acervo cultural, produziu uma obra, dentro de sua grande vocação pelos números e cálculos. No entanto, essa obra se perdeu, não deixando prova histórica; apenas sabe-se que existiu porque foi mencionada por Pacioli em sua “Summa”.

Devoto do santo de Assis e, tendo irmãos que haviam ingressado na ordem, além de todo o suporte de teologia recebido de Alberti (um homem do Renascimento – 1404 à 1472: escultor, pintor, músico, filósofo), outra não poderia ter sido a decisão de Paciolo, se não a de se tornar Frei, o que ocorreu por volta de seu retorno de Roma, em 1471.

Nessa mesma cidade, ele escreve seu segundo livro, um pequeno volume, ainda sobre álgebra. Ao prestígio da Ordem, à respeitabilidade do hábito, Paciolo somava sua imagem de mestre e se consolidava como um escritor; a vocação para o ensino sempre foi algo mais do que evidente e irreversível em Luca.

Sua obra manuscrita de 1478, de Perugia (Tractatus Matematicus ad discípulos perusinos) conserva-se na biblioteca do Vaticano, sob n.º. 3.129, e abrange Aritmética, Geometria, Álgebra, Câmbio, Moedas etc., e Lamouroux admite que possa ter sido o embrião de “Summa” (F. Martin Lamourox Contabilidade, pág. 3O2, ed. Caja de Ahorros, Salamanca, 1989). A estada de Paciolo em Perugia não é bem precisa, mas, ali esteve lecionando e produziu o manuscrito referido e que continha matéria de álgebra e de cálculos mercantis, semelhante, em alguns pontos, aos assuntos da “Summa”.

De Perugia o Frei deslocou-se de volta para Veneza, onde ficou pouco tempo. Não se conhece o motivo da transferência, mas, é em Zara que ele escreve o seu 3º livro de Matemática, também perdido, em 1481. Só sabemos da existência desse livro pela referência que Pacioli fez em sua “Summa”, quando afirma que nele havia passado de leve sobre o assunto e que agora estava a desenvolver em outro de maior profundidade (na Summa).

De Zara, retorna à Toscana, depois à Florença e, mais tarde, à Perugia; depois vai à Roma, para ensinar. De 1490 a 1494, ainda no magistério, leciona em Nápoles e em Pádua. Volta a Florença e, finalmente, desloca-se para Veneza para revisar a sua obra “Summa de Aritmética, Geometria, Proporções e Proporcionalidade” (que acredita-se ter sido concluída em Perugia, no ano de 1487).

Parece não haver dúvidas de que a “Summa” tenha sido produzida e concluída na segunda metade da década de 80, do século XV, ou seja, 200 anos depois que o processo das partidas dobradas já estava consolidado na Itália (o mais antigo documento da partida dobrada na Itália é da última década do século XIII).

O tempo que decorreu entre a conclusão da obra e sua edição foi de, aproximadamente, 7 anos, considerando-se as condições da época e a preferência que os editores tinham por livros de melhor aceitação no mercado (Bíblia, obras do latim clássico, etc.), além do alto custo das edições (muitas perdas e pequenas tiragens), que não estimulava a criar um grande fundo editorial, por questão de giro de capital.

Portanto, em 10 de novembro de 1494, Pacioli foi o primeiro a escrever no livro “Summa de Arithmetica, Geometria, Proportioni et proportionalità” (Conhecimentos de Aritmética, Geometria, Proporção e proporcionalidade), no capítulo “Tratactus de Computis et Scripturis” (Contabilidade por partidas Dobradas), o famoso Método das Partidas Dobradas, onde o autor enfatiza que a teoria do débito e do crédito corresponde à teoria dos números positivos e negativos, tendo esse método sido rapidamente aceito em todo o mundo.

Sobre o Método das Partidas Dobradas, Frei Luca Pacioli expôs a terminologia adaptada:

“Per ” , mediante o qual se reconhece o devedor;

“A ” , pelo qual se reconhece o credor.

Também introduziu os símbolos para “mais” e para “menos” e, acrescentou que, primeiro deve vir o devedor, e depois o credor, prática que se usa até hoje, além de oferecer conselhos sobre a ética dos negócios.

A obra enfatiza práticas que ainda são básicas para a contabilidade, como a importância de entender a manutenção de estoques, dinheiro versus capital e usar uma moeda uniforme para manter contas. Discorria sobre livros mercantis: memorial, diário e razão, e sobre a autenticação deles; sobre registros de operações: aquisições, permutas, sociedades, etc.; sobre contas em geral: como abrir e como encerrar; contas de armazenamento; lucros e perdas, que na época, eram “Pro” e “Dano”; sobre correções de erros; sobre arquivamento de contas e documentos, etc.

Pacioli detalha não apenas a matemática contábil, mas, também, as questões práticas de quantos e quais tipos de registros usar, de modo que o proprietário de uma empresa possa entender, exatamente, o que eles têm e o que precisam para ter sucesso. Pacioli escreveu: “Comece com a suposição de que um empresário tem um objetivo quando entra no negócio. Esse objetivo ele persegue com entusiasmo. Essa meta e o objetivo de todo empresário, que pretende ser bem-sucedido, é obter um lucro legítimo e razoável”.

O “Summa” é um livro muito moderno e, além de volumoso (continha 600 páginas), tem muitos desenhos, fórmulas e arte gráfica (as letras iniciais de parágrafos e distinções são desenhadas artisticamente e consta que foram da lavra de Leonardo da Vinci).

A quantidade de referências positivas feitas sobre o livro que mais se difundiu a respeito da escrituração contábil por partidas dobradas, foi privilegiada a ter sua primeira edição impressa pelo processo industrial inventado por Gutenberg, na década de 1430. Esse processo industrial, tratava-se de um tipo de dispositivo técnico capaz de reproduzir palavras, frases, textos ou mesmo livros inteiros por meio de caracteres ou tipos móveis, tendo em vista que várias outras obras, produzidas há milênios, eram todas manuscritas.

Pacioli continuou estudando, escrevendo e lecionando, somando um total de 11 obras concluídas sobre assuntos diversos: álgebra, geometria, matemática, estratégias militares, xadrez, cubos mágicos, jogos de cartas e contabilidade; faleceu no ano de 1517, em Sansepolcro, e seu sepultamento foi feito na igreja de San Giovanni D`Afra.

Além de marcar o início da contabilidade moderna, Pacioli abriu oportunidades para que novas obras sobre a Contabilidade fossem escritas. Através de seus pensamentos, hoje temos conceitos importantes do ramo da Contabilidade, pois ele possibilitou o desenvolvimento da noção de igualdade, equilíbrio de contas, etc. Infelizmente, o número de textos citando Luca Pacioli é bem reduzido. No Brasil, contando de 1941 até 2014, foi citado apenas 16 vezes.

Luca Pacioli é um ícone de nossa história, não só porque teve a primeira obra impressa onde inseriu um Tratado sobre Escrituração por Partidas Duplas, mas, especialmente, por ter rompido uma inércia e por fazer conhecido um dos mais importantes critérios de registro que toda a história da humanidade já conheceu.

Fonte: Jornal Contábil.

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