DESCONTINUIDADE DE REFORMAS É SINAL RUIM SOBRE INSTITUIÇÕES BRASILEIRAS, AVALIA MOODY’S

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A descontinuidade de políticas reformistas após a eleição de outubro não só poderia comprometer perspetivas de crescimento econômico para o Brasil, mas daria um sinal ruim aos mercados sobre a força das instituições brasileira para lidarem com o quadro fiscal do país, numa situação negativa para a nota de crédito brasileira.

A avaliação é de Samar Maziad, analista sênior para o crédito soberano do Brasil da agência de classificação de risco Moody’s.

Segundo Maziad, em um cenário que chama de “disrupção política”, o futuro presidente teria dificuldades para trabalhar com o Congresso e enfrentaria desafios de governabilidade para dar continuidade à agenda de reformas proposta pela gestão atual.
Isso implicaria um crescimento menor do Brasil e, consequentemente, um potencial aumento do déficit.

“No topo de tudo, está o que isso diz sobre as instituições brasileiras. Vemos problemas estruturais e fiscais há alguns anos com os quais as instituições não estão sendo hábeis para lidar. Essa avaliação seria negativa para o Brasil”, diz a analista.

“Olhamos para a força das instituições, ou seja, a habilidade de governos lidarem com crises e implementarem políticas e como são flexíveis para responder a choques. Se há um problema no lado da despesa há muito tempo, esperamos que os governos saibam lidar com isso. Se não conseguem, há sinais de que as instituições estão enfraquecidas”, completa.

A nota atual do Brasil na Moody’s é “Ba2”, dois degraus abaixo do grau de investimento, espécie de selo de bom pagador dos países. Uma nova visita oficial ao Brasil acontece no próximo ano, segundo Maziad, ainda sem data definida.

A analista diz que há um movimento de fuga do centro político, com cenários mais polarizados, o que não é uma exclusividade do Brasil, mas uma tendência global.

“Isso preocupa porque para promover reformas é preciso construir consensos, o que se torna um desafio para a próxima gestão”, diz Maziad.

Na sua avaliação, independentemente de quem ganhe a disputa, não será fácil obter uma maioria para aprovar reformas, o que vai requerer do futuro presidente habilidade para trabalhar com muitos partidos.

“O importante será a dinâmica entre o presidente e o Congresso. Não podemos esquecer que há uma eleição para o legislativo ocorrendo também. Essa é outra variável importante”, diz.

Apesar dos riscos, a Moody’s trabalha com um cenário base de continuidade de políticas reformistas. Nele, segundo Maziad, a próxima administração conseguiria construir diálogo com o Congresso e avançaria, por exemplo, na reforma da Previdência. A expectativa da agência é que alguma alteração no modelo previdenciário seja aprovada no próximo ano.

“Não é que a gente veja tudo acontecendo de forma suave e de uma única vez. Pode haver algumas revisões, mas haveria esse movimento e senso de continuidade no mesmo caminho”, diz.

Com clarezas no campo político, comprometimento do governo com reformas fiscais e habilidade de cooperação com o Congresso, a nota de crédito do Brasil ficaria estável, afirma Maziad.

A Moody’s projeta um crescimento da economia brasileira entre 1,5% e 1,8% neste ano e de 2% para 2019.

EXTERIOR
O quadro fiscal brasileiro é, para a Moody’s, a grande fraqueza do país, que tem um déficit fiscal elevado e uma estrutura de gastos considerada rígida.

Maziad destaca que, na média dos últimos cinco anos, as transferências da União para estados e municípios no Brasil comprometerem 55% do Orçamento, contra uma média de 26% em países latinos.

“A complacência do mercado vai ser menor [com o próximo presidente]. Ele vai querer ver logo como caminham as reformas”, avaliou Marcelo Peixoto, gestor de renda fixa da Santander Asset Management durante evento promovido pela Moody’s nesta terça-feira (25).

Por outro lado, as contas externas do Brasil, com uma reserva internacional em dólar confortável, e a estrutura da dívida do país são vantagens, aponta Maziad.

Apesar do conturbado cenário político no Brasil, especialistas apontam que condições externas preocupam mais.

“O maior risco é global. O que mais preocupa hoje não é a eleição no Brasil, mas o cenário externo.

Percebemos que, na maioria das vezes, esse é o fator dominante para explicar o movimento de ativos no Brasil. Agora, olhamos para a política monetária nos Estados Unidos, prestamos atenção na economia da China, avaliamos riscos geopolíticos”, disse Alessandro Arlant, analista de crédito da Dahlia Capital, no evento.

Fonte: SESCON

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