Queda na taxa de juros: o que executivos de diferentes setores esperam do novo cenário em 2024

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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central se reúne nos dias 19 e 20 para discutir os rumos da Selic, taxa que é referência para os demais juros da economia do país. Atualmente, a Selic está em 11,25%, e a expectativa é que esse índice chegue a 9% até o final de 2024. Com a tendência de queda, executivos de diferentes setores compartilharam quais são as expectativas para suas áreas de atuação ao longo do ano.

Expectativa de revitalização do ecossistema de startups

Para Fernando Trota, CEO da Triven, empresa de serviços de backoffice focada em startups, a queda na taxa Selic em 2024 deve ser um divisor de águas nos negócios. Segundo o especialista, após meses de juros altos, a redução da taxa básica favorece o potencial de revitalização do ecossistema de startups e beneficia aquelas que estão em busca de escalabilidade. “Nesse novo cenário, investimentos como capital de risco destinado a startups tendem a se tornar mais atrativos, oferecendo uma oportunidade para captar recursos em melhores condições. Por isso, é a hora de estar preparado para aproveitar esse fluxo e refinar os pitches e as estratégias de captação”, aconselha.

O executivo destaca as áreas de saúde digital, inovação tecnológica, educação a distância e economia verde como as mais beneficiadas com essa mudança. “Esses setores se favorecem tanto com o aumento do consumo quanto com o interesse renovado dos investidores. Startups nestas áreas devem antecipar uma demanda crescente e se posicionar de forma estratégica para capturar essas oportunidades”, afirma Fernando.

Outro aspecto que deve influenciar as operações das empresas escaláveis é o potencial de contratação. “Com a economia ganhando fôlego, startups podem se encontrar em uma posição vantajosa para expandir suas equipes. A demanda por talentos deve aumentar, tornando essencial para as empresas desenvolverem estratégias de retenção e atração de profissionais qualificados, alinhando a cultura organizacional com as expectativas do mercado de trabalho atual”, finaliza o especialista.

Especialista aposta em reaquecimento do mercado de crédito

Com juros em queda, o mercado se aquece. O velho mantra tem sido usado por especialistas do mercado financeiro neste começo de ano para embalar perspectivas otimistas em relação aos próximos meses. Na visão de Paulo Silva, CEO da Franq, 2024 terá uma forte retomada no mercado de crédito, impulsionada por fatores como o crescimento da confiança do consumidor e a queda da taxa básica de juros, a SELIC, que deve retornar no segundo semestre ao patamar de um dígito. “É consenso no mercado que o ano de 2024 representará uma retomada da economia brasileira. Um novo ciclo. O primeiro semestre de 2023 foi muito duro, com índices de inadimplência muito altos, assim como o patamar da taxa SELIC, que estava a 13,75% ao ano. Esses índices começaram a melhorar no segundo semestre, assim como a confiança do consumidor. E todas as conversas que temos indicam uma retomada consistente em 2024”, diz Silva. Ainda segundo o CEO da Franq, esses fatores devem levar a um aumento do apetite de crédito por consumidores e instituições financeiras, o que impulsiona o crescimento econômico como um todo.   De acordo com o Índice Neurotech de Demanda por Crédito (INDC), houve uma queda de 13% no ano que passou, mas os analistas acreditam que esse número será positivo em 2024.

Para operadoras de saúde, desafio vai ser manter a sustentabilidade da carteira de clientes

Os últimos anos têm sido desafiadores para o setor de planos de saúde e, em 2024, com a queda na taxa de juros, os cuidados com a sustentabilidade da carteira de clientes deverão ser redobrados – é o que pontua Guilhermino Afonso, CEO da Wellbe, healthtech que atua para tornar a gestão em saúde de operadoras, empresas e corretoras mais eficiente. “Nos meses de taxas de juros altas, as operadoras de saúde puderam aproveitar o intervalo entre o pagamento da mensalidade feito pelo cliente e o repasse aos hospitais para aplicar esse valor em um investimento de renda fixa, por exemplo. Essa movimentação foi importante para ajudar no balanço anual mesmo em momentos em que a sinistralidade do plano estava alta, porque a parte financeira compensava. Agora, com a taxa básica em queda, esse rendimento vai ficar cada vez menor”, contextualiza o executivo. Por isso, ele reforça que a grande missão dos gestores do setor é encontrar o equilíbrio entre o bom desempenho das finanças e a segurança da carteira. “Ainda que o rendimento fique menor, a queda na taxa de juros incentiva o consumo, o que pode resultar em um aumento significativo no número de beneficiários. Ou seja, quem tiver uma carteira saudável, vai conseguir equilibrar”, afirma Guilhermino.

Oportunidades fora do eixo sul-sudeste

Janice Maciel, gerente do Centro de Economia Verde da Fundação CERTI e coordenadora da Jornada Amazônia, destaca que a expectativa positiva com a queda de juros em 2024 terá reflexos na retomada de aportes em investimentos de risco e podem chegar ao ecossistema da floresta. “Esse é um contexto muito positivo para o Brasil e há de se observar que há muitas oportunidades também fora do eixo sul-sudeste. O mercado tem demandado soluções de bioeconomia, de descarbonização, entre outras, e que são soluções presentes no ecossistema da Amazônia. Apesar de haver diversas oportunidades com alto potencial, os investimentos de risco em negócios da região representam uma parcela ínfima comparado com o eixo Sul-Sudeste. A maior dificuldade dessas startups de avançarem na captação é terem visibilidade e se conectarem com investidores de impacto, por isso, buscar parceiros, tais como a Plataforma Jornada Amazônia, gera valor tanto para as startups, quanto para fundos de investimento e corporações privadas com tese nessa temática”,  destaca.

O estudo “Nova Economia da Amazônia”, realizado pela WRI Brasil, revela que a bioeconomia já gera um PIB de R$ 12 bilhões e, com investimentos adicionais, o PIB seria de pelo menos R$ 38,6 bilhões em 2050, gerando 833 mil novos empregos, que substituiriam ocupações hoje ligadas à destruição da floresta. Janice reforça ainda que muitos dos negócios que irão responder por esse valor agregado estão surgindo e se desenvolvendo hoje e para identificar essas iniciativas que se desenvolvem com a floresta em pé é necessário também conhecer os players que fortalecem esse ecossistema.

Varejo deve ser ágil para se adaptar ao novo cenário

O setor varejista sentiu fortemente os impactos da alta taxa de juros, tanto pelo custo de suas dívidas, quanto pela redução do consumo por parte das famílias em decorrência do endividamento. Com o ciclo de queda, a expectativa é que o cenário mude – ainda que lentamente – e o segmento volte a registrar resultados positivos. De acordo com o diretor da vertical de varejo na multinacional Zucchetti, Wagner Muller, o otimismo precisa estar atrelado a uma estratégia cautelosa para a retomada. “Com a queda da Selic, aumentam as expectativas de que os empréstimos fiquem mais acessíveis, estimulando o consumo e aquecendo o mercado. Agora, os varejistas devem se preparar para acompanhar essa expansão nas vendas. Gestores precisam monitorar de perto os custos operacionais, melhorar a cadeia logística e entender como se diferenciar perante o mercado”, pondera. Segundo ele, esse diferencial não é útil apenas para se destacar em relação à concorrência. “O pagamento das dívidas e a chance de guardar dinheiro também é uma demanda das famílias. Por isso, a agilidade para mostrar valor ao público é essencial neste momento”, acrescenta Muller. Além disso, o executivo alerta que outros fatores que influenciam o comportamento do consumidor também devem estar no radar, como a taxa de desemprego. De acordo com dados da Pnad Contínua divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia Estatística (IBGE), o Brasil fechou 2023 com taxa de desocupação em 7,8%, a menor desde 2014.

 

Fonte: Portal Contábeis

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